Diferente como Clô

Sabe quando você instintivamente coloca as mãos nos bolsos? Para descansar os braços. Para se proteger do frio. Quando está sozinho e precisa esperar. E quando não os encontra? As mãos deslizam no tecido sem repouso e o cérebro dá um pequeno tranco de decepção. 

Huis Clos Verão 2008


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Nas roupas projetadas por Clô Orozco os bolsos sempre estavam nos devidos lugares. 2013 na reta final, balanços internos e retrospectivas externas são tão instintivos quando a procura pelos bolsos. Neste ano o mundo da moda não teve muito que celebrar. Denúncias de trabalho escravo, incêndios nas confecções de Bangladesh, crise criativa pairando no ar, etc... Contudo, de todas as notícias, e pela proximidade, a morte da fundadora da Huis Clos foi a que mais me chocou (e o DNA de sua grife se opunha as outras más notícias)

Clô Orozco

Em 2009, Clô Orozco atacou de tradutora de livros infantis. Não por acaso, assinou a versão em português do livro “Different Like Coco”, de Elizabeth Mattews, que ela chamou de “Diferente como Chanel” (Cosac Naify, #bookdodia). No universo da literatura infantil de Gabrielle Coco Chanel é a prima fashion do patinho feio. E o livro destaca visualmente tal metáfora ilustrando a protagonista em seu icônico pretinho básico em meio uma massa de cores e formas antiquadas. 



"Diferente como Chanel" #bookdodia


A órfã que nunca baixou o nariz mudou os padrões das vestimentas femininas porque ousou ser diferente. “Todos amavam Chanel e ela sempre foi diferente”. Assim Clô terminou sua tradução.

“O mais corajoso dos atos é pensar com a própria cabeça”. “Para ser insubstituível, é preciso ser diferente”. “(A moda) É também arquitetura: questão de proporção” são outras frases de efeito presentes no texto.

Como Chanel, Clô Orozco criava para uma mulher moderna, dinâmica e elegante. Era uma grande otimista em relação a mulher brasileira. Oferecia-lhe um projeto de roupa minucioso. Uma sinfonia de formas simples e belas.

Em 2008 entrevistei a estilista para uma matéria da finada Revista Moda da Folha de S. Paulo. A pauta pretendia eleger a imagem da moda brasileira. Fui colher suas aspas depois de um desfile para clientes realizado na loja da Huis Clos na Mario Ferraz, no Itaim. Usando seu indefectível turbante, elegeu o artista plástico Helio Oiticica, criador dos Parangolés. 

Como fã incondicional de seu trabalho, estendi o assunto para ouvi-la um pouco mais. A criadora retificou sua formação em sociologia e contextualizou sua empresa no cenário socioeconômico do Brasil com grande veemência e lucidez. Sabia que suas criações eram extremamente ousadas para os padrões femininos brasileiros e comentou que custava a acreditar que sua marca existisse até aquele momento. Ela tinha um sorriso muito bonito.

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Se falassem as roupas da Huis Clos diriam:

“Ei! Você não precisa estar decotada e ajustada para ser amada. Você pode mais que isso. Jogue com as proporções, com as texturas. Lute pelo que você quer. Seja independente. Você é inteligente”.



inverno 2007

inverno 2008


Inverno 2011

Verão 2012
Inverno 2012 / Imagens - FFW/ Agência Fotosite©




Comentários

  1. Eu simplesmente AMO tudo o que ela fazia. Sempre amei, desde que era uma garota. Sempre "ouvi" esta voz que você disse que as roupas dela teriam “Ei! Você não precisa estar decotada e ajustada para ser amada. Você pode mais que isso. Jogue com as proporções, com as texturas. Lute pelo que você quer. Seja independente. Você é inteligente”.

    Pena que ela se foi....espero que a marca permaneça com sua alma.

    bjs e Feliz 2014, Laura!

    Carmen

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    Respostas
    1. Oi Carmen!
      já está fazendo falta, né?
      Feliz 2014 pra você também =)
      beijos

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