Diário de Bordo: Paris, parte 3 Brávô!

© Opéra National de Paris - Icare


Ir à L´Opéra de Paris é realizar um sonho que você nem sabia que tinha. E assim, ver uma coreografia da Pina Bausch, encenada pelo corpo de baile do emblemático teatro parisiense, ao som de “A Sagração da Primavera” de Igor Stravinsky, tocada por uma orquestra ao vivo , é sonhar acordada. O espetáculo acontece num palco coberto de terra e o figurino de cor clara dos bailarinos vai ficando marrom ao longo da apresentação.

Quem acompanha moda ouviu falar desses dois nomes difíceis de pronunciar em um passado recente. A primeira é a coreógrafa alemã. Para um bailarino encenar um criação dela, é como para um fashionista usar um tweed Chanel original. Revolucionária, ela deu uma dimensão emocional, dramática, ao balé moderno. Seu trabalho inspirou o inverno 2010 de Ronaldo Fraga. Lembram? As modelos entrando na passarela soturna usando máscaras com uma gigantesca trança, marca registrada da bailarina. Em seu blog, Ronaldo colocou textos explicando a relevância da alemã em sua vida, e para cultura mundial.




Pina Bausch dançando no filme "Fale com Ela", de Pedro Almodóvar

O segundo nome é o do compositor russo promovido a fashionista-póstumo, depois de ter seu controverso romance com a poderosa mademoseille Chanel revelado no filme que leva o nome do casal. A primeira cena do filme é justamente embalada pela então polêmica apresentação da “Sagração da Primavera” em 1913, no Théatre des Champs-Élysées, também em Paris. Enquanto o público conservador levanta revoltado com tamanha ousadia musical, Coco Chanel sente que ali mora um gênio e ao conhecer o maestro se oferece para ser sua mecenas. Dessa aparente benfeitoria nasce uma paixão tórrida muito bem contada pelo filme.



Ah! O balé para a "Sagração da Primavera" que aparece no filme é o original, de Vaslav Nijnsky.

O espetáculo contava com outras duas coreografias. A primeira “Apollon”, bem clássica, assinada pelo russo George Balanchine e música também de Stravinsky. A segunda bem moderna chama-se “O zlozony/O composite”, coreografia da norte americana Trisha Brown e música de Laurie Anderson. Mas “A Sagração da Primavera”, a última das três, empurra as anteriores para áreas de menor destaque no cérebro.

Nesse vídeo um pedaço da coreografia, mas com outra companhia de dança, que não achei com o corpo de baile da L`Opera.



A MATRIZ. SEUS RITUAIS

©Alain Boulanger


O teatro foi projetado por Charler Garnier, a pedido de Napoleão III e inaugurado em 1875. Sua arquitetura inspirou casas de espetáculo no mundo inteiro. O teatros municipais do Rio de Janeiro e de São Paulo, por exemplo, são cópias da L`Opéra. Sua arquitetura imponente no estilo eclético ganhou um gran finale com as pinturas de Marc Chagall feitas no começo dos anos 60. Se o público da platéia central cansar do espetáculo a sua frente, pode olhar para cima e se deliciar com o traço lúdico do pintor russo.

©Alain Boulanger

Ao entrar no teatro somos recebidos por uma francesinha conceitual oferecendo o programa. Sua voz é suave. Ela praticamente canta. Fiquei pensando se ela não era uma estagiária de canto lírico da L´Opéra. O programa custa 12 euros e é super completo apresenta os integrantes da orquestra e do corpo de baile e suas como Étoiles (estrelas em português). No sistema hierárquico do corpo de baile da L`Opera, a primeira bailarina vem a baixo da “Étoile”. Ao todo são 10 estrelas, cinco homens e cinco mulheres; e 8 primeiras-bailarinas.

“BRÁVÔ!” Aqui no Brasil aplaudimos de pé até a peça experimental do nosso amigo que pratica performance indiana (afinal, somos afetivos e não queremos desapontar o amigo). Em Paris, a platéia se mantém sentada. Muitos outros “brávôs” ecoam na platéia. Os bailarinos retornam ao palco três vezes. As palmas não param. A mão cansa. O público continua sentado. Essa é uma diferença fundamental das regras de etiqueta de comportamento no teatro lá e aqui.

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De pé ou sentado, as bailarinas fascinam, né? Vida longa aos tutus da Rodarte que Natalie Portman usa em “Black Swan”.

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