Moda pra Ler entrevista: Eduardo Cruz



O mês das noivas é maio, mas o Moda pra Ler antecipou a data e entrevistou o professor e estilista Eduardo Cruz, que atua no mercado de noivas há 30 anos.

Apesar das muitas aulas de desenho que ministra no SENAC, no IED e na Faculdade Paulista de Artes, ele ainda atua no setor vendendo seus desenhos para lojas especializadas.

Nessa conversa o professor conta um pouco da sua história, relembra que até os anos 80 os grandes desfiles terminavam com um vestido de noiva e chama a atenção para a falta de estilistas especializados em casamentos.

Conta um pouco da sua história?
Meu inicio como estilista foi uma casualidade do destino. Nunca pensei em ser estilista. Fiz um curso de ilustração para publicidade e na busca por um emprego acabei conhecendo um estilista chamado Guilherme Caldas, da Tecelagem Francesa, que me convidou para desenhar para tecidos. Comecei na tecelagem Vânia em Moema. Depois a Izilda Fávero me levou para o “Cantinho da Noiva”, na rua São Caetano. Cheguei morrendo de medo, porque não sabia nada. O Dr. Luis Sergio Durso, dono da loja, fez com que eu me tornarsse um profissional conceituado nesse mercado. Devo minha carreira à ele. Trabalhei também na Maison La Jeunese, na Maison Durso. Nos ano 90, após uma viagem à Europa comecei a repensar a minha vida profissional e percebi que já tinha maturidade para construir uma outra trajetória. Não só estilista de noivas. Em 92 enveredei para área de educação onde estou até hoje.

Há hoje estilistas especializados em noivas?
Há sim. Entre eles cito o Pedrinho Fernandes, um dos sobreviventes dessa área e o Nicolas da Arte Noivas, que inclusive foi meu aluno. As noivas deles são modernas, arrojadas. Poderiam existir muitos outros, mas sinto que os jovens estilistas não tem interesse nesse tipo de trabalho.

Por que há o desinteresse?
Acho que as pessoas tem uma idéia que está fora de moda, que não trará lucro ou projeção profissional. O que a mídia nos mostra é o prêt-à-porter, quando muito vestido de festa. Nos anos 70 os grandes desfiles eram encerrados com um vestido de noiva. Era o momento de glamour da coleção. ]]por que trata-se do momento máximo na vida de uma mulher. Não sei se as instituições que não mostram essa possibilidade aos alunos. O mercado de noivas é promissor e precisa de mão de obra especializada e profissionais criativos. O que a gente vê no mercado de noivas são profissionais envelhecidos que atuam a 20 30 anos e necessitando de sangue novo.
Acho que é a falta de divulgação e até um certo receio de achar que é algo muito complexo. Quando na verdade não é. Deveriam ser criados, dentro das universidades, cursos de especialização para noivas e casamentos.

O que as noivas querem?
Cada noiva é uma história. É uma carga emocional muito grande. O vestido resgata a festa de debutante, a princesa do conto de fadas, tem um apelo religioso muito forte. É um serie de informações. Uma das maiores preocupações da noiva é não se descaracterizar, não virar uma mentira. Toda noiva quer estar vestida de noiva e não fantasiada de noiva.

Qual o maior erro que elas cometem na hora de encomendar o vestido?
Os erros são os profissionais que cometem. A gente ouve muito: “noiva pode tudo”, mas não é bem assim. Você não pode tornar-se algo que não é. Se você tem um estilo despojado não pode virar uma bonequinha de porcelana. A roupa é uma continuidade daquilo que somos, o vestido de noiva também. Ela está casando não mudando de personalidade.

Como evoluiu as tendências para noivas ao longo de seus anos de profissão?
Noiva não tem um rigor de tendências, mas hoje existe há uma evolução do lado comercial. O lado personalizado está sendo deixado de lado. Falta uma revista de tendência de noiva. Onde resgate o glamour do vestido, mas sem ser uma fantasia. Sonho não tem tendência, tem adequação com o aqui e agora.

E as revistas que existem?
Elas ajudam, mas acabam levando todo mundo para uma mesma direção.

As celebridades são referência? Qual foi o vestido mais copiado?
Celebridade é sempre referência. O vestido mais copiado foi o da princesa Diana. Foram tantas Ladys DI no Brasil. Foi uma febre de tafetá de seda pura, mangona, saia armada que durou uns 5 anos. As copias eram feitas na íntegra.



Qual a tendência hoje para as noivas?
A tendência é valorizar o tipo físico. É uma moda mais clean, primando pelo caimento.

Como você explica essa tendência?
A consumidora de noiva tem informação de moda. Ela assiste novela, que é uma vitrine, tem acesso à Internet e a uma grande variedade de publicações que trazem referencias de moda. Não é mais o “estilista verdade absoluta”. As noivas estão mais exigentes e sabem o quer.

Como é o mercado de noivas hoje?
É uma grande industria onde todos os profissionais são parceiros e conectados. A florista precisa saber como é o vestido. É um mercado de mão de obra muito competente.

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